Egressa da rede estadual leva conhecimentos de programação a alunas do ensino médio

Estefane de Lima, aluna egressa da rede estadual de ensino do Paraná, descobriu na programação um caminho de empoderamento, aprendizado e transformação social. Hoje universitária, ela cursa Engenharia da Computação e ministra ensino de programação a meninas estudantes da rede pública, dentro do projeto de incentivar mulheres na computação. A trajetória dela é alinhada ao princípio do Dia Internacional das Meninas nas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), comemorado nesta quinta-feira, 24 de abril.
Instituída pela ONU, em 2010, a iniciativa fomenta a participação feminina na área de tecnologia por meio da promoção de ações de inclusão digital.
Estefane tinha 15 anos quando ganhou seu primeiro laptop, em 2020. Obrigada a estudar em casa devido às restrições impostas pela pandemia do coronavírus e prestes a ingressar no 2º ano do ensino médio, os pais pensaram que o computador poderia auxiliá-la nos estudos, que até então eram feitos pelo celular. Conseguiram, porém, muito mais que isso. “Para mim, se tornou uma porta para oportunidades que antes pareciam distantes”, lembra Estefane.
Natural de Rio Bom, município com pouco mais de 3 mil habitantes do Norte do Paraná, Estefane estudava no Colégio Estadual do Campo Dr. Rebouças quando, na mesma época, o Governo do Estado lançou o Edutech, programa de capacitação em tecnologia e programação para alunos da rede pública, desenvolvido em parceria com a Alura. Foi seu primeiro contato com programação, mais especificamente com desenvolvimento web. “Aprendi o básico de HTML, CSS e JavaScript, mas foi o suficiente para me encantar pela área e me incentivar a conhecer cada vez mais”.
Já em 2022, no último ano do ensino médio, Estefane uniu o interesse despertado pela programação a uma paixão antiga, a matemática. Ela escolheu o curso ao prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), candidatou-se a uma vaga de Engenharia da Computação na Universidade Técnica Federal do Paraná (UTFPR), unidade de Apucarana, conquistando o terceiro lugar na classificação geral.
“Quando iniciei minha graduação, senti que havia desbloqueado um novo mundo, cheio de oportunidades e novos caminhos”, recorda ela. “Entretanto, como mulher e ex-estudante de escola pública, passei por momentos desafiadores que colocaram à prova minhas escolhas”.
No segundo semestre do curso, Estefane precisou complementar sua renda, para contribuir com as finanças da família. A princípio em busca de um estágio, ela foi incentivada por um de seus professores, Fernando Barreto, a participar de um projeto de extensão recém-implantado na UTFPR. Foi assim que conseguiu uma bolsa de estudos para ministrar aulas de capacitação de professores da rede estadual em HTML, CSS e JavaScript. “As mesmas ferramentas de tecnologia que me fizeram entrar no mundo da programação e os mesmos professores que faziam parte da minha história na rede pública”.
INCENTIVO ÀS MULHERES – Mas Estefane não parou por aí. Ainda em meados de 2024, ela e uma amiga, Isabelle Rosvadoski Nofre, com quem estuda e divide uma casa, descobriram compartilhar um desejo em comum: um projeto para incentivar o ingresso de mulheres na área da computação.
“Eu conhecia mais do que ninguém todas as minhas dificuldades no curso de Engenharia de Computação, mas a Isabelle também tinha as suas, e provavelmente outras meninas que talvez nem conhecíamos, mas que passavam pelos mesmos entraves”, lembra.
Foi a partir desse desejo em comum que surgiu o Codificadoras, projeto de extensão que tem como objetivo ministrar oficinas de programação e robótica. Para coordenar o projeto, Estefane e Isabelle chamaram a professora Tamara Angélica Baldo, única mulher do corpo docente de Computação da UTFPR de Apucarana. O Codificadoras irá atender meninas do ensino médio e mulheres que já estejam envolvidas na área de computação.
“Quando tinha 15 anos e ainda estava um pouco perdida, tenho certeza de que eu poderia ter sido uma aluna beneficiada por esse projeto. Agora, sei que ainda estou me desenvolvendo e trilhando meu caminho, mas já tenho condições de oferecer para outras pessoas as mesmas oportunidades que um dia recebi”, reflete Estefane. “Para mim, é isso que permite que alguém possa ir mais longe. E foi isso que me trouxe até aqui.”
DIA DAS MENINAS NAS TIC – Casos como o de Estefane ainda são raros. Segundo pesquisa do IBGE, divulgada em 2022, a presença feminina em cursos das áreas de Ciência da Computação e Tecnologia da Informação (TI) ainda é muito baixa. Naquele ano, apenas 15% dos concluintes eram mulheres.
Para mudar esse quadro, reduzindo a exclusão digital de gênero e incentivando a participação feminina nas carreiras da área de tecnologia, entre outros objetivos, foi criado o Dia Internacional das Meninas nas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) pela União Internacional das Telecomunicações (UIT), agência vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU).
“O Governo do Paraná acredita que a educação digital é capaz de transformar não só a vida dos alunos, mas também a sociedade”, declara o secretário estadual de Educação, Roni Miranda. “Por isso investimos no ensino tecnológico e incentivamos ações que busquem a afirmação e igualdade de gênero”, conclui.