Foz do Iguaçu

O Paraná que nasce do subsolo: ciência e tecnologia a serviço da água que bebemos

Com sete anos de pesquisa, o Projeto Hidrosfera leva informação, segurança e sustentabilidade hídrica para o Oeste do Paraná.  

Pouca gente imagina, mas boa parte da água que chega às torneiras das residências vem de um tesouro escondido a centenas de metros de profundidade: as águas subterrâneas do Aquífero Serra Geral. Entender como essa água circula, qual é sua qualidade e como subsidiar a gestão pública para garantir que ela continue disponível para as próximas gerações é a missão do Hidrosfera, iniciativa pioneira do Itaipu Parquetec, Itaipu Binacional e da Universidade Federal do Paraná (UFPR), por meio do Labotório de Pesquisas Hidrogeológicas (LPH).  

De acordo com o professor Gustavo Barbosa Athayde, coordenador do projeto, o aquífero Serra Geral é responsável por 89% do abastecimento de água da Bacia Paraná 3 (BP3), na região oeste do Paraná. “Nosso objetivo é entender se há água lá embaixo, qual é a sua qualidade e como podemos utilizá-la de forma segura. Assim, a população pode se preparar melhor em períodos de estiagem ou de excesso hídrico”, explicou Gustavo.  

O Hidrosfera monitora desde 2018 o sistema aquífero fraturado, uma abordagem pioneira no Brasil. A equipe desenvolveu uma metodologia de monitoramento qualitativo e quantitativo das águas subterrâneas, avaliando composição química, nível da água e impactos da chuva. Para compreender a assinatura química da água a cada três meses, mais de 3.000 km são percorridos para coletar amostras em poços distribuídos pela BP3.  

Mas quando esse conhecimento não chega à população, o risco é grande. Em muitas regiões, o costume de perfurar poços sem estudo prévio pode comprometer a qualidade da água, provocar contaminações cruzadas entre aquíferos e até reduzir a recarga natural do sistema.  

Nesta terça-feira, os integrantes do projeto realizaram um workshop técnico, em Foz do Iguaçu, para alinhar resultados e estratégias de divulgação científica voltadas à sociedade. O encontro reforçou a importância do trabalho conjunto entre instituições públicas e de pesquisa na gestão responsável dos recursos hídricos.  

Redes de monitoramento  

A rede hidrodinâmica contempla cerca de 20 poços tubulares monitorados, com sensores automáticos, dados de satélite e medições manuais, permitindo estimar períodos de recarga ou queda do aquífero.  

A rede hidroquímica coleta amostras em 38 poços que abastecem municípios da BP3, além de amostras de chuva e de água superficial, para analisar composição da água, origem dos elementos químicos e potenciais contaminações.  

Para Lucas Henrique Garcia, gestor do projeto pela Itaipu Binacional, a iniciativa reflete o compromisso da empresa com o desenvolvimento sustentável e o bem-estar das comunidades. “O Hidrosfera tem importância não só para a ciência, mas também para os gestores públicos e a população. Ele contribui para o entendimento e a gestão responsável da água que todos nós consumimos” afirmou.  

Para o gestor do Centro de Inteligência e Gestão Territorial do Itaipu Parquetec, Newmar Wegner, o projeto sintetiza o propósito do Parque em promover inovação com impacto social e ambiental. “Quando falamos em inovação, muita gente pensa em tecnologia digital, mas o Hidrosfera mostra que inovação também é cuidar do que é essencial. Levar esse conhecimento sobre as águas subterrâneas para a população é uma forma de proteger a vida e garantir um futuro mais equilibrado para toda a região”, pontuou.

Entre os resultados já consolidados pelo projeto estão:  

O ebook “As Águas Invisíveis na Bacia Hidrográfica Paraná 3”, com linguagem acessível sobre águas subterrâneas, recarga do aquífero e metodologias de análise;  

O atlas Hidroquímico do Sistema Aquífero Serra Geral, com os principais resultados das análises químicas desde 2019;  

O modelo Hidrogeológico do Aquífero Serra Geral, que descreve o comportamento da água, precipitação, recarga, escoamento superficial, tipos de rocha e pontos de contaminação;  

E a infraestrutura de divulgação científica e educação, por meio da Escola Itaipu para Sustentabilidade e materiais multimídia que popularizam o tema.  

Esses avanços permitem que o conhecimento produzido pelo projeto influencie diretamente políticas públicas, a gestão de recursos hídricos e a tomada de decisão de municípios, companhias de abastecimento, câmaras de vereadores e a sociedade civil. 

Benefícios para a população  

O Hidrosfera oferece subsídios para que municípios e sistemas de abastecimento definam quanto podem extrair com segurança, reduzindo riscos de colapso ou contaminação. Também alerta para variações de nível ou qualidade, auxiliando no planejamento frente a períodos de estiagem ou excesso hídrico.

Ao disponibilizar os resultados em formatos acessíveis, o projeto fortalece a transparência e a participação cidadã, permitindo que a população compreenda o “tesouro escondido sob nossos pés”. Além disso, estabelece uma base científica sólida para políticas públicas de água, protegendo o recurso para as gerações futuras, especialmente em uma região altamente dependente de águas subterrâneas.

Da pesquisa à transformação social  

Com quase sete anos de monitoramento ininterrupto, o Hidrosfera atinge um estágio de consolidação. Como lembrou o professor Gustavo Barbosa Ataíde:

“Quando a gente olha aqui, uma sala cheia de gente, percebemos que aquela ideia embrionária de 2016, quase solitária, hoje já é um sonho realizado para nós na universidade.”

A próxima etapa, já em produção, inclui o lançamento de um documentário de aproximadamente 10 minutos, voltado à comunicação para toda a população, de forma que o tema das águas subterrâneas seja compreendido por pessoas de diferentes perfis.  

Mais informações, publicações e acesso aos documentos estão disponíveis em: campanha.itaipuparquetec.org.br/hidrosfera

Itaipu Parquetec

Itaipu Parquetec é um ecossistema de inovação que integra entidades como instituições de ensino, empresas e órgãos governamentais.

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